sexta-feira, 12 de setembro de 2014

Mais uma vez o Facebook...



Ultimamente me deparei com uma reação inusitada a minha “persona pública”, que pode ser resumida de duas maneiras: a primeira é a percepção de que quando eu falo, minha fala representa o pensamento do PT, a segunda é a de que o PT fala por meu intermédio (há uma sutil diferença), nenhuma das duas é verdadeira.

O PT não possui um pensamento unívoco, pra começo de conversa, é um partido de massas, com milhares de filiados e centenas de militantes, partido em diversas correntes com ideias e concepções de política e sociedade diferentes. Além disso, não se trata de um partido Stalinista, em que seus membros são vigiados e orientados a falar apenas o que a direção do partido permite e aprova. Em termos subjetivos, eu nunca procurei saber sequer se existe uma opinião do partido sobre os assuntos acerca dos quais me manifesto. Por certo, se sou um militante, eu compreendo que existe um projeto de nação, de sociedade, e que comungo com diversas das ideias expressas nesse projeto, todavia, até mesmo para o bem desse projeto, devo criticá-lo quando necessário e não me furto de fazê-lo (pensando na ironia erótica de Mann), assim como não me furto de defendê-lo quando o vejo ser achincalhado (o que é frequente). Além disso, não sou e nem nunca fui um dirigente partidário e, mesmo que o fosse, a minha opinião estaria sempre sujeita ao debate interno e a democracia partidária.

Especialmente no período eleitoral essa percepção míope parece se acirrar, e, apesar de ter me furtado ultimamente de fazer militância digital, isso ainda me persegue. Acontece que, além de ser um militante do PT, sou também um professor e pesquisador e alguém que estuda e pensa (nessa ordem) e, algumas vezes, me coloco na incômoda posição de intelectual público. Quando o faço, entretanto, falo eu, com minha bússola moral, meus estudos e minhas reflexões, e só. Eu estou envolvido diariamente com a política, minha família esteve e está envolvida com política, mas, pasmem, eu já escrevi e ministrei palestra sobre: Zumbis, Star Wars, Dragon Ball, mitologia grega, epistemologia, literatura, psicanálise freudiana, Naruto, desenhos animados, quadrinhos, hermenêutica, psicologia complexa, mitologia comparada e política.

Já percebi que as redes sociais são um local um tanto inadequado para debates mais sérios, como me disse um amigo, basta você saber escrever com correção e conseguir encadear uma ideia depois da outra pra ser acusado de “pseudointelectual”, acusação das mais interessantes e que, no fundo, não passa da velha falácia do ad hominem (atacar o caráter do interlocutor ao invés do seu argumento) assim como a identificação com a minha persona pública e o PT cai na mesma falácia. As pessoas não se furtam a generalizar apressadamente, assumir imediatamente que suas premissas são verdadeiras, acreditar que por que ignoram determinado argumento ele deve ser falso, ou acreditar que por que uma premissa é popular ela deve ser verdadeira. Diante dessa realidade tão sinistra para o pensamento, um debate honesto é sempre incrivelmente cansativo e difícil (um dos motivos que me levou a parar de “arengar” com o povo no facebook), realmente cansativo.

Eu tenho orgulho do meu partido e do que ele realizou, comparado com os governos anteriores parece uma enormidade, todavia, comparado ao que ainda precisa urgentemente ser feito, foi muito pouco. É evidente que não é um partido perfeito, se o fosse, seria algo desumano e demoníaco e, fundamentalmente incompleto, bidimensional. É lidando com nossas imperfeições – e não virando as costas a elas – que caminhamos, algumas vezes para frente, outras para trás, mas caminhamos. Mudar a sociedade é algo extremamente difícil, há resistências e atritos de todos os tipos e, mesmo que tenhamos operado poucas mudanças significativas, isso já foi o bastante para livrar 36 milhões de pessoas da miséria. Eu acredito sinceramente que o bom debate é feito no campo das ideias – se você as tem – aceito críticas, desde que não sejam clichês, preconceitos ou falácias, mas fundamentalmente, eu não sou um porta-voz do meu partido, se querem me rotular seguem as seguintes sugestões: o cara que estuda Jung, o cara que estuda Campbell, o sujeito que fala de Naruto, aquela cara que leu uns livros do Tolkien que ninguém leu, aquele judeu chato metido a budista, o fulano do Kung Fu, quem? O sujeito gatinho que anda de suspensórios, aaan tá!


Podem inventar outros, mas, por gentileza, não confundam a minha “persona pública” comigo, há muito de mim nela, algumas coisas eu nem mesmo sei que estão lá (mas estão), ao mesmo tempo em que me revelo com as coisas que escrevo também me escondo – o máximo que eu posso – por isso, deixem o julgamento acerca da minha personalidade aos meus amigos e entes queridos, que compartilham dos meus sonhos e projetos, e que já presenciaram o que tenho de melhor e pior. Lembrem do que afirmava, por exemplo, Dilthey, que um texto não pode ser traduzido apenas como uma expressão da personalidade de seu autor, mas como algo que pode dizer da condição humana. Se meus textos tiverem essa qualidade um dia o jogo de luz e sombra que faço aqui, mesmo com seus dissabores terá valido a pena.

Mesmo com todos os problemas, eu me sinto feliz em viver nesse nosso “admirável mundo novo”, e não o trocaria por nada, essa é a aventura de nosso tempo e me sinto feliz por viver hoje. Quem quiser partilhar dessa jornada comigo, acredito que vai ser interessante, aos demais, me excluam e sejam felizes.

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